Educação antirracista: responsabilidade de todos
- marcelo4064
- 27 de mar.
- 3 min de leitura
Recentemente, Juliana Storniolo, diretora da FourC Bilingual Academy e da FourC Learning, participou de uma palestra com Simran Jeet Singh, educador, escritor e ativista americano que aborda temas como religião e racismo, e Jasmin Rubero, diretora sênior de arte e designer gráfica especializada em livros infantis. O que os dois têm em comum além do mundo editorial? Ambos são pessoas não brancas que, desde a infância, perceberam que os personagens dos livros aos quais tinham acesso não refletiam suas próprias características físicas. E eles não foram os únicos a notar essa ausência.
Essa falta de representatividade não é um acaso, mas parte de um padrão recorrente de desigualdade nas publicações infantis. Estudos demonstram que a marginalização racial nesse segmento persiste há décadas. Com base em estatísticas coletadas em Madison/Wisconsin desde 1985 pelo Centro Cooperativo do Livro Infantil (CCBC), os pesquisadores David Huyck e Sarah Park Dahlen identificaram uma grande disparidade na representação de crianças BIPoC (sigla em inglês para pessoas negras, indígenas e não brancas) em comparação com personagens brancos e figuras animais em livros infantis (Stechyson, 2019).
Em 2015, entre cerca de 3 mil novos livros infantis publicados, 73,3% dos protagonistas eram crianças brancas, 12,5% eram animais ou figuras de fantasia e apenas 14,2% representavam todos os grupos racialmente marginalizados. Esse cenário mudou um pouco em 2018, quando 50% dos protagonistas eram brancos, 27% eram animais ou seres fictícios, e apenas 23% pertenciam a grupos racialmente marginalizados.
O dado anterior revela um aspecto alarmante: há mais personagens animais e inanimados nos livros infantis do que personagens não brancos. Outra forma de ler isso: é muito mais provável que uma criança negra encontre nos livros um urso panda vivendo situações cotidianas e tendo diálogos sobre sentimentos, cores, formas geométricas, assuntos de família ou qualquer outra coisa do que uma criança igual a ela. E o que deveria ser mais comum? Uma criança vivendo esse tipo de diálogo ou um urso panda?
Essa disparidade não é meramente casual. Ela reflete uma resistência histórica à representação de crianças não brancas e suas vivências. Embora o estudo seja norte americano, podemos inferir que no Brasil a realidade não é tão diferente, nem nos livros nem nos programas de TV, nos canais do YouTube, ou em outros meios de comunicação.
Uma das falas que mais marcou Juliana durante a palestra, foi a promessa que Simran Jeet Singh criança fez a si mesmo: “ele disse que, se ele não encontrasse livros que mostrassem personagens como ele e sua família, ele mesmo os escreveria”. E assim ele fez, mas não bastava escrever, as personagens precisavam de alguém que desenvolvesse suas características físicas e elementos culturais de forma visual, e então Simran Jeet Singh e Jasmin Rubero se encontraram. Juliana evidenciou a importância de Rubero ao representar experiências diversas em seu trabalho como designer gráfica: “Rubero afirma com muita veemência que as histórias infantis tem potencial gigantesco para influenciar a forma como as crianças se enxergam, elas precisam, portanto, de oportunidades para se verem nos meios de comunicação que as cercam.”
A escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie também aponta para a importância da representatividade em seus trabalhos, principalmente em seu livro e palestra “O perigo de uma história única”, ela diz: “A consequência da história única é esta: ela rouba a dignidade das pessoas. Torna difícil o reconhecimento da nossa humanidade em comum. Enfatiza como somos diferentes, e não como somos parecidos.”
Também como disse Angela Davis: “Numa sociedade racista, não basta não ser racista, é necessário ser antirracista”, como podemos nos implicar como educadores para sermos antirracistas? Não existe uma lista fácil de tarefas que vá dar conta de um tema complexo, no entanto, nossas ações diárias podem ajudar.
Como professores, somos responsáveis por uma curadoria de conteúdos para nossos alunos. Podemos ter a intencionalidade de garantir a diversidade de vozes, escolhendo livros e programas com personagens diversas para a educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, por exemplo. Para os anos finais do ensino fundamental e ensino médio, podemos trazer estudos elaborados por cientistas de nacionalidades distintas. Para qualquer idade, valorizar o trabalho de autores não brancos é essencial.
E em sua prática pedagógica, que ações têm sido feitas para dar visibilidade e voz a todos?
Palestra SxSw: https://www.youtube.com/watch?v=0i1yKAcUnRA
Palestra Chimamanda: https://www.youtube.com/watch?v=EC-bh1YARsc
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